Historeando: Francisco João de Azevedo – O padre brasileiro que inventou a máquina de escrever, mas foi injustiçado por séculos

Historeando: Francisco João de Azevedo – O padre brasileiro que inventou a máquina de escrever, mas foi injustiçado por séculos

Francisco João de Azevedo nasceu em Mamaguape, na Paraíba. Apesar de ter ficado órfão cedo, seu pai lhe ensinou vários princípios de mecânica. Durante uma visita pastoral, em 1834, Dom João da Purificação Marques Perdigão, Bispo da Arquidiocese de Recife, conheceu Francisco João. E, ao tomar conhecimento de sua pobreza financeira, o convidou para o Seminário Diocesano de Recife. Três anos depois, Francisco João foi ordenado Padre. Além de Padre, ele foi professor no Arsenal da Marinha de Pernambuco. Foi nessa ocasião que começou a criar a máquina de escrever.

A máquina inventada por Francisco João foi equipada com 14 teclas, o móvel era parecido com um piano. Cada tecla adicionava uma haste comprida com uma letra na ponta. A máquina permitia datilografar as letras do alfabeto e os sinais ortográficos. Um pedal era utilizado para trocar de linha. O invento foi exibido na Exposição Agrícola e Industrial de Pernambuco de 1861, onde foi premiado com a medalha de ouro, na presença do Imperador Pedro ll.

Francisco João de Azevedo morreu em 1880 sem completar o sonho de patentear a máquina e transformar o Brasil num grande exportador do produto. Seu corpo foi enterrado no cemitério de João Pessoa – PB.

De acordo com o biógrafo Ataliba Nogueira, no livro “Um inventor brasileiro”, publicado em 1934, o projeto de Francisco João foi roubado por um agente de negócios norte-americano que teria passado os desenhos ao tipógrafo Christopher Lathan Sholes, também norte-americano, que aperfeiçoou o invento e foi reconhecido como o inventor da máquina de datilografia. Como em todas as grandes invenções, inúmeros países reivindicam a invenção da máquina de escrever. Além do Brasil e dos Estados Unidos, figuram na lista França, Inglaterra e Itália. Entre junho e dezembro de 1872, um norte-americano, levou o protótipo da máquina de Francisco João de Azevedo para o exterior. O padre teria sido dissuadido a deixar levarem o protótipo com a promessa de que havia pessoas interessadas em fabricá-lo. Em março de 1873, Christopher Latham Sholes apresentou como seu um modelo praticamente idêntico à máquina brasileira para os armeiros Remington, que a industrializaram. A máquina era eficiente e durável e, após um início incerto, as vendas finalmente decolaram, atraindo então o interesse de outros fabricantes; a concorrência apareceu e a indústria de máquinas de escrever instalou-se.

Na carta que dirigiu ao Jornal de Recife, em 1876, depois da Exposição de Londres, o padre deixou claramente entrever as dificuldades que enfrentou: “Esta, como todas as minhas descobertas ficou inútil, porque me falta o dote, muito necessário e muito legítimo de saber recomendar a creditar minha ideia. O acanhamento e a timidez da minha índole, a falta de meios, e o retiro em que vivo não me facilitam o acesso aos gabinetes onde se fabricam reputações e se dá o diploma de suficiência. Daí vem que as minhas pobres invenções definham, morram crestadas pela indiferença e pela minha falta de jeito”

Padre Azevedo morreu na segunda-feira de 26 de julho de 1880, sendo sepultado no dia seguinte, no cemitério da Boa Sentença. Seu nome jazia esquecido quando, em 1906, pelas colunas de um modesto periódico (o jornal do Comércio de Manaus) o paraibano Quintela Júnior publicou um artigo narrando que o inventor da máquina de escrever havia sido aquele provinciano. O padre paraibano Francisco João de Azevedo morreu sem realizar seu maior sonho: Conseguir a patente de uma máquina de escrever de madeira feita à mão, com auxilio de lixa e canivete.

O modelo americano era uma cópia do projeto brasileiro que continuou a ser apenas uma peça de artesanato. Escritores, jornalistas e historiadores garantem que o modelo da máquina de escrever brasileira foi transferida para os Estados Unidos ou Inglaterra por um estrangeiro, com autorização do padre Azevedo.

Houve outros modelos de máquinas de escrever que se antecederam ao do inventor paraibano – diz o professor Ataliba Nogueira, um especialista no assunto, mas nenhum pôde ser industrializado, “pois para tanto não se prestavam. Com seus óculos de aros de ferro presos por um cordão, padre Francisco trabalhou com canivete e lixa durante meses, recortando letras de jornais, para colocá-las sobre as teclas, e tirando as arestas dos tipos de madeira”.

Outro escritor, Miguel Milano, responsável pela biografia do inventor, diz que “o simples confronto entre as duas máquinas ( a brasileira e a americana de Cristóvão Sholes), não deixou a menor dúvida de que se tratava da mesma máquina. Nem o pedal lhe foi suprimido, apesar de perfeitamente disponível”. Os artigos de escritores e jornalistas americanos não fazem sequer comentários sobre a vida e obra do padre Azevedo.

Francisco João de Azevedo, o inventor da máquina de escrever, é hoje apenas nome de rua, de loja maçônica e de uma escola de datilografia na cidade onde nasceu, João Pessoa. Onde viveu a maior parte de sua vida e se ordenou padre, não há referências ao inventor nos museus do Estado.

Depois que os americanos passaram a produzir as máquinas de escrever em escala industrial, muitos escritores e publicações se preocuparam em defender o padre João de Azevedo. Um deles, o escritor SILVIO ROMERO, enviou uma carta ao jornal GAZETA DE NOTÍCIAS, esclarecendo que “vi a cansar a máquina de escrever admiravelmente feita de madeira, capaz de reproduzir qualquer trecho falado ou escrito”.

O jornal “A Paraíba”, de 31 de julho de 1880, diz que “o padre Azevedo inventara uma máquina de escrever”, enquanto o Diário de Pernambuco explica que “ele inventou uma máquina taquigráfica e outra de escrever, que encheu de pasmo e admiração a Europa civilizada”.

A Revista Ilustrada, do Rio de Janeiro, foi mais objetiva, reivindicando ao padre brasileiro os direitos e a prioridade à invenção. O artigo publicado em 1876 comenta que “as primeiras máquinas americanas começam a entrar no mercado europeu, chegando até aqui os ecos de seu sucesso, através da apreciação das folhas”.

O professor Ataliba Nogueira completa: “Tanto mais valor tem esse brado de alarma (da revista Ilustrada) quanto considerarmos que o padre Azevedo estava vivo, entregue às suas ocupações docentes”.

Em uma crônico irônica, Angelo Agostini, revela sua revolta com o abandono do invento do padre João Azevedo.

“O brasileiro não tem o direito de inventar, de descobrir, de empreender uma ideia engenhosa, profícuo, útil, de realizar um melhoramento do qual se aproveita o País ou o mundo. Crie a sua imaginação um invento, gaste seus dias em estudá-lo, coordená-lo, realizá-lo e apresentá-lo, porque encontrará três antagonistas desapiedados: a indiferença, a incredulidade e a inveja que o aniquilam, nulificam e estraçam-lhe as suas esperanças mais bem fundadas, fazendo-lhes perder o fruto de longas vigílias e, quem sabe, de enormes dispêndios”.

Miguel Milano, o biógrafo do inventor fez um comentário após sua morte: “Digno por todos os títulos de ser apontado ao reconhecimento da humanidade em geral e dos brasileiros em particular, nada se fez até hoje, que se perpetue a memória do grande paraibano”.

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