Historeando: Os “Canibais de Garanhuns” – Um dos crimes mais brutais da história do Brasil

Historeando: Os “Canibais de Garanhuns” – Um dos crimes mais brutais da história do Brasil

Olhando para a foto dos três acusados de praticar alguns dos crimes mais brutais da história do país durante uma das audiências de julgamento, é até possível se enganar achando que são pessoas normais, mas é como diz o ditado, quem vê cara não vê coração.

A história dos trio parece roteiro de filme de terror, tudo milimetricamente arquitetado e posto em prática por três pessoas criadoras de uma suposta seita. Eles planejavam assassinatos macabros com requintes de crueldade. Os “Canibais de Garanhuns”, como ficaram conhecidos, foram destaque nas mídias nacionais e internacionais pela forma fria como agiam os suspeitos dos crimes e pela revolta da população.

O trio Jorge, Bruna e Isabel matavam pessoas, “tratavam” as carnes, congelavam e depois as consumia durante as refeições. Não bastasse o canibalismo, os três ainda recheavam coxinhas e empadas com carne humana para comercializar no município de Garanhuns, localizado no Agreste Pernambucano.

O caso considerado um dos crimes mais chocantes do país na última década, se tornou até um livro-reportagem, produzido pelo jornalista e escritor Raphael Guerra – em parceria com a Chiado Editora. Para o autor de “Os Canibais de Garanhuns”, Raphael Guerra, vários detalhes chamaram a atenção durante o desenrolar da história. “O caso surpreendia a imprensa todos os dias. Começou com a descoberta de dois corpos enterrados em uma casa. No dia seguinte, começou a reviravolta, com a suspeita de ritual macabro criado pelo trio. Depois surgiram as histórias de salgados recheados com as carnes das vítimas e vendidos em Garanhuns. Tudo isso foi muito inusitado e chocante”, afirmou.

Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, 55 anos, Isabel Cristina Torreão Pires, 56, e Bruna Cristina Oliveira da Silva, 31, foram condenados por matar, esquartejar e comer a carne do corpo da adolescente Jéssica Camila da Silveira Pereira, com 17 anos na época do crime, em 2008. O trio ainda foi responsável pelo assassinato de Giselly Helena da Silva, 31 anos, e Alexandra Falcão da Silva, 20 anos, no Agreste de Pernambuco. Casos que deram início às investigações e revelaram uma história de horror com repercussão mundial, sem falar nos possíveis outros crimes que não foram descobertos.

Jorge Beltrão tem características de um esquizofrênico. Ele chegou a detalhar em uma espécie de diário macabro, as barbaridades que praticava com as vítimas. Para realizar os crimes, o acusado contava com a parceria da mulher, Isabel Cristina, e a lealdade da amante, Bruna Cristina. Era uma relação estranha de convivência, aparentemente harmoniosa entre os suspeitos, que dividiam a mesma casa e agiam em cumplicidade.

Quando foram presos em abril de 2012, o trio de canibais relataram a polícia que eram integrantes de uma seita chamada Cartel, cujo o objetivo era a purificação do mundo e o controle populacional.

A sentença começou a ser lida pelo juiz Ernesto Bezerra, que presidiu o júri popular. Conforme a decisão dos jurados, Jorge Beltrão terá que cumprir pena de 71 anos de reclusão. Isabel Cristina pegou 68 anos de reclusão. Bruna Cristina foi condenada a 71 anos e 10 meses de prisão. Os três foram condenados por duplo homicídio triplamente qualificado – por motivo torpe, com emprego de cruel e impossível a defesa da vítima -, além dos crimes de ocultação e vilipêndio de cadáver e de furto qualificado. Jorge Beltrão e Bruna Cristina respondem ainda por estelionato, sendo que Bruna ainda é acusada de falsa identidade. O caso seria julgado em Garanhuns, mas o advogado de um dos réus entrou com uma solicitação para que o júri acontecesse em outra comarca. Os três responderam a dois processos: um pela morte de Jéssica Camila da Silva Pereira, em maio de 2008, pelo qual foram condenados em 2014; e outro pelos dois homicídios em Garanhuns.

Após o trabalho da defesa dos acusados, o Ministério Público salientou, através da réplica, o comportamento agressivo de Jorge Beltrão, ainda na infância, detalhado pelo irmão do acusado. A promotora Eliana Gaia relatou que ele escrevia gibis mencionando o surgimento de uma nova raça.

De acordo com a denúncia do MP, Jéssica Camila da Silva Pereira foi morta em maio de 2008. O trio, que vivia um triângulo amoroso, atraiu a jovem com a filha para viverem na mesma casa, oferecendo uma vida melhor, já que ela era moradora de rua. No dia do crime, segundo o MP, Jéssica queria sair com um homem e foi impedida por Jorge. Ele a golpeou no pescoço com uma faca, esquartejou o corpo, retirou a pele e acondicionou a carne na geladeira para consumo entre eles, inclusive, oferecendo para a menina. Bruna ainda assumiu a identidade de Jéssica e passou a criar a criança como se fosse filha dela.

Segundo a promotoria, as provas existentes são suficientes para incriminar o trio. A defesa de Jorge Beltrão, por outro lado, alega que ele sofre de esquizofrenia paranoide, o que o isentaria da culpa por se tratar de uma doença mental. A acusação apresentou laudos periciais, assim como o diário do acusado que relata os crimes com detalhes. Ainda de acordo com a denúncia, os réus subtraíram os pertences da vítima, dentre os quais carteira de trabalho, CPF e cartões de crédito, utilizados para realização de compras no comércio local.

O assassinato da outra vítima, Alexandra da Silva Falcão, de acordo com a denúncia do MPPE, ocorreu no dia 12 de março de 2012, também na residência dos acusados. Alexandra teria sido chamada por Bruna para trabalhar como babá da criança que ela apresentava como filha, enquanto Isabel ficou à espreita para garantir a execução do plano. Na residência dos réus, enquanto conversava com Bruna, a vítima foi atingida também por um golpe de faca na garganta desferido por Jorge, por meio do qual faleceu. Segundo os autos, em seguida foi arrastada para o banheiro, onde foi esquartejada por Jorge e Bruna. Parte dos restos mortais teria sido consumida pelos três e o que sobrou do corpo foi enterrado também numa cova feita por Jorge no quintal da sua residência.

Após o sumiço das mulheres, familiares e amigos desesperados começaram a procurar pistas do paradeiro delas; não demorou muito para a primeira evidência aparecer. A família de Giselly recebeu uma conta do cartão de crédito no nome da menina. Na fatura, constava que dois dias após seu desaparecimento, foram feitas compras em cinco lojas diferentes. Diante da situação insólita, familiares correram para a delegacia. Os policiais puxaram as câmeras de segurança dos estabelecimentos e se depararam com um estranho casal utilizando o cartão da jovem. Após investigações, os oficiais não demoraram para encontrar o endereço.

Assim que chegaram na residência, encontraram três adultos: Jorge Beltrão Negromonte de Oliveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva. Também havia uma pequena criança lá, que foi identificada como filha de Jorge e Bruna.

Em meio às perguntas das autoridades, a menina, assustada, apontou para o quintal. Lá, os policiais encontraram os corpos das duas mulheres desaparecidas. Como consequência, os três foram levados para a delegacia, e teriam que prestar depoimento. Isabel cedeu à pressão policial e contou tudo o que havia acontecido, deixando até os oficiais mais experientes horrorizados com o que o trio havia realizado . A mulher começou explicando como as vítimas eram levadas para a morte. A idosa convidava as jovens para sua casa com o objetivo de “apresentar a palavra de Deus”. Assim que chegavam, eram apresentadas a Bruna que as levava para o interior da casa, onde Jorge estava escondido, pronto para atacar.

Os restos mortais não só serviram de alimento para o trio macabro, mas também para a pobre criança que morava com eles. Em uma situação ainda mais trágica, a carne também passou a ser vendida para moradores desavisados da região, que compravam os salgados de Isabel, sem saber a procedência da carne. Em um piscar de olhos, a cidade de Garanhus era destaque em todos os veículos de comunicação por conta do crime bárbaro. Existem suspeitas que Jorge tenha matado mais mulheres durante sua vida, mas não há pistas nem evidências além das falas de suas mulheres, Bruna e Isabel. Na prisão, publicou seu diário através da obra Revelações de um Esquizofrênico.

Fonte: G1, Uol

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