Nesta terça-feira (7/10) fazem três meses que Gabriel Oliveira, de 24 anos, morador de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, morreu em um suposto acidente com gás na empresa onde trabalhava no Camboja, país do Sudeste Asiático. Apesar disso, a família do mineiro segue sem poder se despedir efetivamente dele, uma vez que o corpo encontra-se retido no outro continente e, pelo menos por enquanto, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) vem negando os pedidos de repatriação forçada do cidadão brasileiro. O caso é tratado como suspeito de tráfico humano pelo Itamaraty.

Por conta da dificuldade enfrentada, familiares e amigos de Gabriel fizeram uma manifestação, no último sábado (4/10), na praça Nossa Senhora da Glória, no bairro Eldorado, para cobrar que o governo brasileiro auxilie no translado. O TEMPO conversou nesta terça-feira com o servidor público aposentado, Daniel Araújo, de 54 anos, pai do rapaz morto na Ásia, que contou que o filho foi para o país em abril, após conseguir uma vaga para trabalhar com tecnologia da informação em uma empresa. 

“Ele chegou na Tailândia e, de lá, foi para o Camboja. Ele dizia que trabalhava fazendo manutenção na rede de computadores da empresa. A gente sempre pedia para fazer chamada de vídeo, para ver como ele estava. E ele sempre falava que estava trabalhando muito, que era uma carga muito grande, mas que o contato dele era de seis meses ou um ano, e que, finalizando, voltaria para o Brasil”, detalhou. 

Porém, no último dia 4 de julho, a família perdeu contato com Gabriel, recebendo somente no dia 15 de julho, mais de uma semana depois da data da morte, uma notificação do consulado da Tailândia acerca do fato. “De lá para cá, a gente vem procurando encontrar uma forma de trazê-lo. Estamos argumentando sobre o caso da Juliana Marins, aquela jovem que caiu no vulcão da Indonésia. Isso porque o governo Federal revogou um decreto só para permitir o translado do corpo dela”, argumenta. 

“Fazem três meses que ele faleceu. Esse período tem sido de muita angústia, incerteza, impotência mesmo, como pai. Vendo minha esposa chorando, minha filha sofrendo e, infelizmente, sem saber se vamos conseguir rever o Gabriel”, lamentou. 

Desde o fim de julho, o Camboja vive uma escalada de tensão com risco de estourar uma guerra

A família também criou uma página no Instagram com o nome “Repatriação do Gabriel”, para tentar pressionar as autoridades. A campanha também ganhou apoio do ator Allan Souza Lima, que divulgou um vídeo em suas redes sociais cobrando uma solução para o caso de Gabriel.

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Suspeita de tráfico humano

Ainda de acordo com o pai do mineiro, apesar deles não terem provas suficientes, existe a suspeita de que a proposta de emprego que levou o filho até o país asiático possa ter sido um esquema de tráfico humano. “O método usado por eles, indica para isso. Mas, como a gente combinou e ele manteve o contato por vídeo, a gente nem suspeitou dessa possibilidade, a gente achava que estava tudo bem”, destaca Daniel. 

Procurado pela reportagem, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou, por nota, que acompanha o caso do jovem mineiro. “A Embaixada do Brasil em Bangkok tem conhecimento do caso citado e vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Consulares e com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas, em linha com as mais modernas práticas internacionais”, escreveu.

Ainda segundo a pasta, ela tem ciência e presta toda assistência consular possível aos brasileiros vítimas de tráfico de pessoas no sudeste asiático, “além de atuar de forma proativa em iniciativas de prevenção. 

“Desde a identificação dos primeiros casos de tráfico para a região, em 2022, foi publicado alerta consular a respeito do aliciamento de brasileiros, ainda disponível no Portal Consular. Em fevereiro de 2025, foi publicado novo alerta, assim como nota à imprensa, sempre com o objetivo de ampliar a conscientização pública sobre esse grave ilícito transnacional”, divulgou.

O Ministério também participa do IV Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, tendo elaborado uma cartilha com “Orientações para o Trabalho no Exterior”  e um folheto informativo sobre o procedimento de repatriação de brasileiros em possível risco de tráfico de pessoas.

“O traslado de restos mortais de brasileiros falecidos no exterior só está previsto em situações excepcionais. As ações deste Ministério se fundamentam no disposto no art. 257 do Decreto nº 9.199/2017 e no Decreto nº 12.535/2025, em fase de regulamentação”, concluiu o MRE.
 



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