
Na esteira da divulgação dos resultados do primeiro trimestre do ano safra, as ações da Raízen (RAIZ4) registraram forte queda de 16,13% no acumulado da semana passada, sendo a maior baixa do Ibovespa no período. Apenas na sessão pós-resultado, na última quinta-feira (14), os papéis caíram 12,50%.
Conforme destacou a XP Investimentos, a Raízen apresentou um trimestre desafiador com resultados alinhados ao esperado pela casa, marcado por: (i) aumento da alavancagem devido à substituição de contratos com fornecedores por dívida, elevando a relação entre dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) para 4,5 vezes (x); ii) ganhos de eficiência operacional que avalia como não recorrentes; (iii) condições climáticas adversas que reduziram os volumes de moagem e limitaram a diluição de custos; e (iv) perdas em estoques na Distribuição de Combustíveis no Brasil, agravadas por uma parada de manutenção mais longa do que o esperado na Argentina.
A companhia também mencionou em seu release de resultados que continua avaliando proativamente, junto com seus acionistas controladores, a possibilidade de um aumento de capital, com as discussões ainda em estágio inicial.

Contudo, após o resultado bastante desafiador, a expectativa é de melhora à frente para as ações? Ou é melhor ficar cauteloso com o papel?
Após o resultado do 1T26, o Bradesco BBI cortou o preço-alvo para as ações de R$ 2,80 para R$ 2,80 para R$ 2 (ainda um potencial de alta de 92% frente o último fechamento), mas manteve recomendação equivalente à compra (outperform, desempenho acima da média do mercado) para as ações.
O Ebitda ajustado no 1T26 totalizou R$ 1,9 bilhão, em linha com a projeção do Bradesco BBI, mas abaixo do consenso. Os analistas também observam que o trimestre foi muito mais limpo, sem a forte poluição da atividade comercial que abalou os resultados do 4T25. A divisão de Mobilidade foi o principal destaque, com margem de R$ 149/m³ – significativamente superior ao nível da Vibra/Ultrapar de R$ 115 a 118/m³, refletindo ganhos de eficiência e otimização dos níveis de estoque. O Ebitda de Açúcar e Renováveis totalizou R$ 862 milhões, em linha com o esperado, mas com queda de 27% em relação ao ano anterior, devido a volumes menores e menor diluição de custos.
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Ainda assim a dívida líquida aumentou acentuadamente, para R$ 49 bilhões, de R$ 34 bilhões no 4T25, após o forte consumo de caixa, relacionado principalmente ao encerramento da grande maioria das operações de financiamento a fornecedores.
Já o BTG Pactual manteve recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 3 upside de 188%) e avalia que começa a ver sinais positivos operacionais. A equipe de análise aponta que, após a divulgação do prévia operacional, não esperava que os resultados da Raízen impressionassem.
O início desafiador da safra de cana-de-açúcar deste ano — levando a menores rendimentos de cana e maiores custos unitários — juntamente com paradas de manutenção na refinaria na Argentina, já indicavam menor lucratividade. Isso foi confirmado por um Ebitda 18% menor anualmente, atingindo R$ 1,9 bilhão.
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No entanto, não apenas ficou 6% acima de suas expectativas, como também apresentou melhor qualidade — algo que não via na Raízen há bastante tempo: (i) controles de capex e despesas fizeram muito mais diferença do que antecipava; (ii) o balanço continua pressionado, mas está mais limpo, líquido e com menos riscos financeiros oriundos de trading; e (iii) o segmento de combustíveis brasil superou as expectativas.
Os menores rendimentos de cana e menor ATR (Açúcar Total Recuperável) /t (tonelada) prejudicaram a lucratividade, resultando em custos unitários 19% mais altos ano a ano, o que explica a maioria da queda de 22% anualmente no Ebitda unitário, para R$ 469/t de ATR.
Dito isso, observa melhorias bem-vindas em aspectos que a Raízen pode controlar: uma melhor gestão de risco no negócio de trading também se traduziu em melhores preços realizados para o açúcar (+5% anualmente e +20% trimestralmente), além de uma redução de 19% nas despesas gerais e administrativas.
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“A moagem de cana parece estar ganhando ritmo no 2T26, aumentando a alavancagem operacional daqui para frente. A continuidade da racionalização do portfólio de usinas de cana também deve melhorar as margens de contribuição”, destaca o BTG.
Com um custo da dívida líquida de R$ 1,6 bilhão no trimestre (R$6,2 bi anualizado), a Raízen precisa acelerar o processo de desalavancagem. Ajustar o capex, reduzir o negócio de trading e se desfazer de ativos não essenciais são passos positivos, mas provavelmente não suficientes. “Por isso, vemos de forma positiva a mensagem no comunicado afirmando que ‘a companhia continua avaliando proativamente, junto a seus acionistas controladores, a possibilidade de um potencial aumento de capital. As discussões continuam em estágio inicial, sem termos definidos ou certeza de execução’”, ressalta.
Assim, mantém recomendação de compra, pois mesmo uma pequena melhora na geração de caixa poderia destravar um potencial relevante de valorização das ações.
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Muito ainda por fazer
O BB Investimentos, por sua vez, tem as ações da Raízen em revisão.
O banco avalia que a Raízen apresentou dados negativos no primeiro trimestre do ano safra, refletindo o impacto das queimadas e das dificuldades competitivas no segmento de mobilidade. Mas, considerando o resultado líquido negativo (R$ 1,8 bilhão, ou 14,8% do valor do market cap) e a forte elevação da alavancagem, fica cada vez mais claro que a companhia deve seguir sofrendo com o impacto da expansão das operações e de seu endividamento em um ritmo maior do que sua estrutura de capital poderia suportar em cenários mais adversos.
O BB-BI lembra que esse processo foi iniciado quando havia a perspectivas de juros menores e um excesso de otimismo com a expansão no etanol de segunda geração (E2G). Em paralelo, o negócio de mobilidade no Brasil vem enfrentando um ambiente mais competitivo e margens pressionadas.
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“No último resultado trimestral, questionamos se a queda nos papéis da empresa já precificava plenamente esse cenário ‘tempestade perfeita’ da safra 24/25, mas com os dados mais recentes, ficou mais claro que os impactos dos ajustes planejados devem demorar um período mais longo, com a atual estrutura de capital ficando ineficiente para gerar valor ao acionista. Diante do cenário, onde entendemos que as premissas que utilizamos para nossa modelagem ficaram defasadas para refletir a situação, colocamos nosso preço-alvo em revisão”, aponta.
O UBS BB, por sua vez, tem recomendação neutra e preço-alvo de R$ 1,50 (upside de 44%) para os ativos RAIZ4.
O banco vê a empresa abrindo caminho para dias melhores, mas ainda há muito a se fazer até lá, avalia.
Para os analistas, a Raízen reportou resultados mais positivos após os impactos da reestruturação nos trimestres anteriores.
A equipe de análise vê isso como um importante sinal positivo da estratégia que a empresa está implementando – mas permanece neutra em relação à ação, visto que espera que isso leve mais tempo para se materializar em retorno aos acionistas.
Dito isso, considera que o FCF (fluxo de caixa livre) negativo de R$ 14 bilhões no trimestre (versus os -R$ 15 bilhões esperados pelo UBS) ainda prejudica o sentimento sobre a empresa, que precisa se desalavancar, mesmo que já tenha sido antecipado.
De qualquer forma, observa vários destaques positivos, particularmente a redução de cerca de 20% nas despesas gerais e administrativas ajustadas. O banco também comenta a avaliação sobre o aumento de capital, que se soma ao avanço nas vendas de ativos até o momento (até o final do ano, a empresa espera receber cerca de R$ 2,6 bilhões em desinvestimentos).
“Acreditamos que um potencial aumento de capital que possa resultar em uma desalavancagem significativa abriria caminho para que os investidores recuperassem o interesse nas ações, embora, no curto prazo, consideremos que isso represente um importante excesso de capital e uma potencial diluição para os acionistas”, avalia.
De acordo com compilação LSEG com 11 casas de análise que cobrem RAIZ4, 7 recomendam compra e 4 recomendam manutenção, com preço-alvo médio de R$ 2,49 (upside de 139% frente o fechamento de sexta-feira).