Com a confirmação da interceptação da flotilha Global Sumud, que tentava levar alimentos e ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, dezenas de protestos eclodiram e foram convocados na Europa desde a quinta-feira, reunindo milhares de pessoas nas ruas de importantes cidades do continente. Autoridades israelenses confirmaram nesta sexta-feira que todas as embarcações do grupo foram retirados de circulação, e anunciaram que foi dado o início no processo de extradição das centenas de ativistas detidos, incluindo cidadãos brasileiros.

Centrais sindicais italianas convocaram uma greve geral nesta sexta-feira, em apoio aos ativistas da flotilha, e paralisaram os serviços portuários e a rede ferroviária, provocando caos entre passageiros. Importantes cidades italianas, como Milão e Roma, registram manifestações e passeatas desde o dia anterior, quando cerca de 10 mil pessoas tomaram as ruas da capital italiana. Perto do Coliseu, símbolo da capital, eles se reuniram ao anoitecer.

Os manifestantes marcharam novamente na manhã de sexta-feira em Roma, até a praça em frente à estação central de trem Termini, onde os serviços foram cancelados ou atrasados ​​em até 80 minutos. Entre a multidão estava o universitário Giordano Fioramonti, de 19 anos, que explicou o motivo da adesão ao ato.

Entorno do Coliseu, em Roma, ficou tomado por manifestantes em protesto contra ação de Israel em Gaza e a interceptação da Flotilha Global Sumud — Foto: Tiziana Fabi/ AFP
Entorno do Coliseu, em Roma, ficou tomado por manifestantes em protesto contra ação de Israel em Gaza e a interceptação da Flotilha Global Sumud — Foto: Tiziana Fabi/ AFP

— Também é nosso dever cívico mostrar o quanto estamos indignados e descontentes com o que está acontecendo no mundo, com o nosso governo, demonstrar nosso apoio à flotilha, especialmente à Palestina, aos moradores de Gaza que estão sendo mortos, torturados e massacrados — disse o italiano.

Em todo o país, milhares de pessoas se reuniram para marchas e flashmobs, de Turim e Trento, no norte, a Bari e Palermo, no sul. Uma multidão aplaudiu e agitou a bandeira palestina em Milão enquanto caminhava pelas ruas, carregando uma enorme faixa com os dizeres: “Palestina Livre, Parem a Máquina de Guerra”.

O governo italiano é um dos mais críticos à flotilha Global Sumud (que significa “resiliência”, em árabe). A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, classificou a iniciativa de “perigosa e irresponsável”. Ela também criticou os sindicatos italianos, afirmando que “feriados prolongados e revolução não combinam”, ao se referir à convocação da greve para a sexta-feira.

A flotilha partiu de Barcelona no fim de agosto, anunciando como objetivos “abrir um corredor humanitário e pôr fim ao genocídio em curso do povo palestino” em meio à guerra entre Israel e Hamas. A operação de interceptação durou quase 12 horas, e culminou na prisão de mais de 400 ativistas a bordo de 41 barcos, entre eles a ativista sueca Greta Thumberg e a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE).

Ainda na quinta-feira, na cidade espanhola de onde zarparam os ativistas, ​​vários manifestantes, muitos deles agitando bandeiras palestinas, reuniram-se na Plaza de Les Drassanes, no centro, entoando slogans como “Gaza, você não está sozinha”, “Boicote a Israel” e “Liberdade para a Palestina”.

Em Barcelona, ​​milhares de manifestantes se reuniram na Plaza de Les Drassanes — Foto: Reprodução / redes sociais
Em Barcelona, ​​milhares de manifestantes se reuniram na Plaza de Les Drassanes — Foto: Reprodução / redes sociais

Na França, milhares se reuniram na Praça da República, em Paris, convocados pelo partido de esquerda França Insubmissa, antes de serem dispersos. Em Marselha, ativistas exigiram a libertação dos detidos, e denunciaram a empresa de armas Eurolinks por vender componentes militares para Israel.

Genebra, na Suíça, também testemunhou um protesto em massa com quase 3 mil participantes. Alguns acenderam fogueiras e hastearam uma enorme bandeira palestina em um telhado.

Cerca de 3 mil pessoas também se reuniram em frente ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, com sinalizadores, lenços de cabeça tradicionais palestinos e faixas com os dizeres: “Navegue para Gaza e rompa o bloqueio”, eles exigiram proteção para os ativistas da flotilha.

Na Irlanda, em frente ao Parlamento em Dublin, Miriam McNally, juntamente com cerca de 100 manifestantes, expressou sua preocupação com sua filha, membro do grupo de barcos.

— Ela foi sequestrada ilegalmente em águas internacionais. Estou aqui por ela e por Gaza — disse.

Protesto em Barcelona exige o fim do genocídio do povo palestino em Gaza — Foto: Reprodução / redes sociais
Protesto em Barcelona exige o fim do genocídio do povo palestino em Gaza — Foto: Reprodução / redes sociais

Haia, na Holanda, viveu momentos tensos quando centenas de manifestantes interromperam o tráfego ferroviário após serem dispersos pela polícia de choque.

Protestos também ocorreram fora da Europa. Veículos de imprensa internacionais registraram atos de Buenos Aires a Kuala Lumpur. Na cidade asiática, dezenas protestaram em frente à Embaixada dos EUA.

— O que eles estão fazendo é inumano — disse Ili Farhana, 43 anos.

Place de la Republique, em Paris: protesto contra ação de Israel em Gaza — Foto: STEPHANE DE SAKUTIN / AFP
Place de la Republique, em Paris: protesto contra ação de Israel em Gaza — Foto: STEPHANE DE SAKUTIN / AFP

Em meio aos protestos, o Ministério das Relações Exteriores israelense anunciou a extradição de quatro ativistas nesta sexta, identificados como cidadãos italianos. Cerca de 470 pessoas foram detidas, segundo a polícia. A informação oficial por parte das autoridades do Estado judeu é que todos eles serão submetidos a um processo administrativo e deportados para a Europa.

O governo israelense prometeu que o procedimento oficial seria realizado o mais rápido possível — embora, durante o período de espera para deportação, os ativistas serão mantidos em um centro de detenção, provavelmente localizado no sul de Israel.

No Reino Unido, manifestações foram realizadas em Londres ainda na quinta-feira, e novos atos foram convocados para o fim de semana, sob contrariedade das autoridades públicas, após o ataque terrorista contra uma sinagoga em Manchester terminar com dois judeus mortos no feriado do Yom Kippur.

A ministra do Interior, Shabana Mahmood, disse estar “decepcionada” com a realização dos protestos de quinta-feira, e fez um apelo para que os manifestantes “recuassem” dos planos de realizar marchas no fim de semana.

— Eu acho que continuar dessa forma parece antibritânico, parece errado — disse ela. (Com AFP)

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