
Quando se fala em grandes eventos de games, é impossível não pensar na Gamescom, realizada todos os anos em Colônia, na Alemanha. Com milhões de visitantes ao longo de suas edições, ela se consolidou como a maior feira de videogames do mundo — não apenas em público, mas também como vitrine estratégica para anúncios, negócios e tendências.
Mas o impacto da Gamescom vai muito além da Europa. No Brasil, eventos como a Brasil Game Show (BGS) e até mesmo a Comic Con Experience (CCXP) foram, em maior ou menor grau, inspirados pelo modelo híbrido da feira alemã. E em 2024, essa conexão se estreitou ainda mais com o nascimento da Gamescom Latam, realizada em São Paulo, marcando a primeira expansão oficial do evento fora da Alemanha.
Confira a seguir aqui no Game On, como a Gamescom moldou o cenário brasileiro de eventos gamers, as semelhanças e diferenças entre eles, e por que essa aproximação pode transformar o Brasil em um dos principais polos globais da indústria de jogos.
A Gamescom como referência global
Desde sua estreia em 2009, a Gamescom construiu um modelo de evento que combina duas dimensões: negócios e entretenimento. Durante os primeiros dias, as atividades são voltadas para reuniões entre publishers, desenvolvedores, investidores e imprensa especializada. Já nos dias seguintes, os holofotes se voltam para os fãs, que lotam os pavilhões para testar demos, assistir a palestras e acompanhar campeonatos.
Essa estrutura híbrida é um dos segredos do sucesso da feira. Ela permite que a Gamescom seja, ao mesmo tempo, um termômetro de tendências para os negócios e um espetáculo de entretenimento. Não é à toa que o formato foi replicado — com adaptações — em diversos países, inclusive no Brasil.
BGS: inspiração e celebração à brasileira
A Brasil Game Show nasceu no mesmo ano que a Gamescom, em 2009, ainda como um evento pequeno no Rio de Janeiro. Hoje, realizada apenas em São Paulo, reúne mais de 300 mil visitantes por edição, o que a torna o maior evento de games da América Latina.
Embora a BGS tenha sua identidade própria, alguns elementos de sua evolução lembram claramente a estrutura da Gamescom:
- Participação de publishers globais: Assim como a Gamescom, a BGS entendeu cedo que a presença de grandes nomes — como Sony, Microsoft, Nintendo, Ubisoft e Capcom — era fundamental para atrair público e credibilidade.
- Espaços temáticos: Os palcos e estandes grandiosos, com cenários imersivos e filas gigantes para testar lançamentos, são um reflexo direto do que se vê em Colônia.
- Atividades para imprensa e negócios: Embora a BGS seja majoritariamente voltada para fãs, nos últimos anos ela também passou a incluir espaços para imprensa e encontros de negócios, buscando aproximar-se do modelo híbrido da Gamescom.
No entanto, a BGS preserva um diferencial importante: enquanto a Gamescom equilibra negócios e público, a BGS foca quase inteiramente na experiência do fã. O evento brasileiro tem cara de celebração, mais próximo de uma festa gamer, em que meet & greets com influenciadores, campeonatos de eSports e concursos de cosplay dividem o protagonismo com os jogos.
CCXP: cultura geek encontra os games
Se a BGS é a “versão brasileira” mais próxima da Gamescom, a Comic Con Experience (CCXP) também absorveu algumas lições da feira alemã. Lançada em 2014, a CCXP se inspirou diretamente na San Diego Comic-Con dos Estados Unidos, mas, com o tempo, percebeu o poder dos games dentro da cultura pop.
Hoje, é comum ver estúdios de jogos participando com estandes, painéis exclusivos e até anúncios feitos durante o evento. A criação da CCXP Games, que busca aprofundar esse nicho, mostra como o público brasileiro se interessa cada vez mais por experiências semelhantes às que a Gamescom oferece: misturar universos, quebrar barreiras e criar um festival multimídia.
O impacto no Brasil
Parte do fascínio da Gamescom está na sua capacidade de movimentar o noticiário mundial. Posicionada no segundo semestre, ela é o local ideal para as empresas lançarem trailers e demos antes da concorrência de final de ano. Um anúncio de peso feito em Colônia causa um tsunami de repercussão global, e o Brasil não fica de fora.
Quando um trailer aguardado de um jogo AAA, como Cyberpunk 2077 ou Death Stranding, é revelado na Gamescom, a comunidade gamer brasileira, sedenta por novidades, reage com a mesma intensidade. Youtubers e streamers brasileiros traduzem e analisam os trailers em tempo real, sites de notícias publicam artigos detalhados e as redes sociais explodem em discussões. A Gamescom se torna, para o público brasileiro, uma vitrine virtual, onde o futuro dos jogos é revelado.
Esse fenômeno tem um impacto direto no mercado local. Um jogo que recebe um tratamento especial na Gamescom ganha um novo nível de visibilidade no Brasil, impulsionando a pré-venda e o interesse do público.
As empresas brasileiras, tanto desenvolvedoras quanto varejistas, usam o hype gerado na Gamescom para planejar suas estratégias de marketing e vendas. A feira alemã, portanto, não é apenas um evento distante; ela é um catalisador que dita o ritmo da indústria global, e o mercado brasileiro dança conforme a sua música.
Gamescom Latam: a ponte oficial com o Brasil
Se antes a influência da Gamescom no Brasil era indireta, agora ela se tornou direta. Em 2024, nasceu a Gamescom Latam, fruto da união da Gamescom com a BIG Festival — o maior evento de jogos independentes da América Latina.
Realizada em São Paulo, a feira já nasceu com DNA híbrido da sua matriz, unindo:
- Negócios: área dedicada a encontros entre publishers, devs e investidores.
- Indies: mantendo o legado do BIG Festival, com mostras de jogos independentes.
- Público: espaços de experiência, estandes e atrações para os fãs.
A chegada da Gamescom Latam é simbólica: mostra que o Brasil não é apenas um “reflexo” da Gamescom alemã, mas um mercado estratégico, capaz de abrigar sua própria edição. É também um passo de integração global, colocando São Paulo na rota oficial da indústria internacional.
Em 2025, o evento registrou mais de 130 mil visitantes e reuniu cerca de mil empresas, incluindo mais de 200 publishers. Houve uma ampliação significativa em relação à edição anterior, com o local sendo duas vezes maior.
A edição de 2026 já está confirmada para ocorrer entre 30 de abril e 3 de maio de 2026, com uma estrutura similar. Se as edições anteriores já foram um sucesso histórico, a Gamescom 2026 chega com o desafio de superar todas as expectativas.
O futuro: Brasil no radar mundial
A realização da Gamescom Latam é um sinal claro de que o Brasil está no mapa global dos games. Além de ser um dos maiores mercados consumidores do mundo, o país começa a ganhar mais visibilidade como produtor de conteúdo e de talentos.
No futuro, é possível imaginar um cenário em que a Gamescom de Colônia lance tendências, a BGS traduza essa energia para os fãs e a Gamescom Latam conecte o ecossistema local ao internacional. Uma tríade poderosa que transforma o Brasil em peça-chave no tabuleiro global.
Mais do que nunca, estamos diante de uma nova fase: não apenas assistir de longe ao espetáculo da Gamescom, mas fazer parte dele — agora em casa, com a Gamescom Latam.