
Nesta quarta-feira (20), o projeto da Tribuna do Paraná “Tamo Junto Com” atenderá a Irmandade Betânia. Parte da venda da edição deste dia do jornal será revertida para a causa da associação cristã e filantrópica, que realiza ações sociais e educacionais, para o desenvolvimento integral de crianças, jovens e adultos.
A pobreza se alimenta de limitação e, certas vezes, pessoas de baixa renda tendem a achar que o ambiente que elas vivem reflete aquilo que elas são. Para a Diretora Conselheira da Irmandade Betânia, Denise Lau, de 45 anos, é neste exato local em que a educação se faz de extrema necessidade. Ela garante: a educação liberta e convida para novas possibilidades de vida.
Esse convite chegou até Gislaine Amanda Joaquim Souza, de 30 anos. Aos seis anos, ela morava na Vila Zumbi dos Palmares, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. Sem condições para bancar um colégio de boa qualidade, os pais da menina sonhadora passaram a deixa-la com uma vizinha para que pudessem trabalhar e garantir o sustento da família.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná
A região era de extrema pobreza. Gislaine se recorda de que o local era insalubre, sujo e desorganizado. Ela chegou a ficar doente por conviver nele. A mãe decidiu então tentar matricular ela em uma das escolas sociais mantidas pela Irmandade Betânia dentro da vila. A concorrência era grande, mas a mãe conseguiu e, segundo Gislaine, foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida.
“Lá eu comecei a ouvir falar sobre o amor de Jesus, lá eu fazia quatro refeições por dia, coisa que em casa a gente não fazia”, lembra.
Gislaine ficou na escola até os 12 anos. Anos se passaram e quando chegou o vestibular, não teve dúvidas: pedagogia. Segundo ela, a memória de como ela foi tratada dentro da instituição a acompanhou por toda vida. Para ela, retribuir o que viveu se tornou um propósito.
Em 2020, ela deixou o papel de ex-aluna e ocupou o lugar de professora da instituição. Atualmente ela é coordenadora em uma das três escolas atendidas pelo projeto.
“Me sinto com o dever cumprido, Deus usa pessoas para alcançar outras pessoas”, comemora.
Um único propósito há décadas
Denise trabalha há mais de duas décadas na instituição filantrópica. De estagiária a Diretora Conselheira da Irmandade Betânia, a curitibana conta que a história da instituição começa, juridicamente, em 1980, em Curitiba.
Contudo, desde 1930, com a chegada dos primeiros missionários alemães e as primeiras jaconisas — mulheres que desempenham um papel de serviço e cuidado dentro da igreja —, a organização atua em prol de famílias em situação de vulnerabilidade no Brasil através da doutrina cristã.
Ao longo de décadas, o trabalho cresceu e hoje cerca de 2,5 mil pessoas são atendidas pelos projetos sociais da irmandade. Atualmente, a instituição faz a gestão de três escolas, sendo duas sociais, um hotel e uma pousada. Todos os negócios são voltados, de alguma maneira, a construção de uma vida digna para crianças, jovens e adultos de baixa renda.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná
Segundo Denise, a primeira escola foi fundada em 1986. Conhecida como Aldeia Betânia, atualmente, ela é uma escola particular, mas que também atende crianças mais humildes através de bolsas de estudos. Hoje em dia, ela é uma das principais geradoras de recursos dos projetos sociais desenhados pela instituição.
Em 1990, a instituição fundou o Hotel Estância Betânia. Localizado em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, inicialmente, o objetivo era que ele fosse uma clínica para apoio psiquiátrico e psicológico. Com o tempo, a ideia passou por reformulações e hoje ele também é um dos geradores de recursos da instituição.
Em 1997, a Irmandade Betânia fundou o Centro de Educação e Inclusão Social. Localizado dentro da Vila Zumbi dos Palmares, em uma comunidade de Colombo, Denise lembra que quando o projeto foi implantado, a região era de extrema pobreza. Segundo ela, foi um trabalho de muito apoio à comunidade que tanto precisava de amor e carinho.
“Hoje, graças a Deus, é melhor do que no início. Lá começou um trabalho educacional dentro de assistência na educação infantil”, conta.
Atualmente, o local atende crianças de um a seis anos. Ao todo, são 300 alunos, todos bolsistas.
“Já passaram muitas crianças por lá. São muitas histórias lindas de crianças que foram resgatadas por essa assistência. Trouxemos as famílias para perto, demos orientação de princípios e valores para essas crianças que hoje levam toda essa bagagem para a vida”, destaca.
A casa das jaconisas, a sede da irmandade desde 1980, ainda está localizada no bairro Atuba, em Curitiba. Porém, no início dos anos 2000, o local também se transformou na Pousada Betânia. Assim como o hotel, hoje, o local é um dos geradores de recursos dos projetos sociais.
Denise conta que a última unidade da instituição foi criada mais recentemente, em 2019. A Escola Estância Betânia, na qual ela é diretora e Gislaine é coordenadora, foi projetada para atender 400 crianças. Porém, ela ainda não está completamente construída. Portanto, segundo Denise, apenas 103 crianças são atendidas no momento. Desse total, 90% dos alunos são bolsistas.
“Ela tem um atendimento misto, pois ela é uma unidade que busca uma sustentabilidade através dos alunos pagantes, mas prioritariamente ela tem atendimento para bolsistas”, explica.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná
De acordo com Denise, a instituição presta assistência a diversas crianças de famílias com rendas inferiores a um salário mínimo através das bolsas oferecidas nas três escolas. Para além disso, a irmandade também as acompanha através de um departamento pastoral. Ao notar qualquer tipo de necessidade, a instituição mobiliza apoiadores e voluntários para agir em prol daquela família.
“Ao perceber uma necessidade, a gente vai de encontro a essa necessidade para que essa família tenha a condição de estar se desenvolvendo plenamente”, explica.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná
Além das bolsas, Denise destaca que a instituição possui diferentes projetos sociais. Entre eles, a equipe promove oficinas aos sábados para crianças da Vila Zumbi, oferece cursos profissionalizantes gratuitos, realiza encontros semanais de pessoas com mais de 60 anos na sede da irmandade, entre outras atividades.
Segundo a diretora, todos os projetos giram em torno da construção de valores, fortalecimento de vínculos e no desenvolvimento pessoal. Para manter o trabalho vivo e a atuação em movimento há décadas, ela ressalta que a instituição conta com a geração de renda dos próprios negócios, mas também com a ajuda da comunidade.
“Hoje em dia, nós geramos com as nossas unidades 70% do valor do nosso custo. Os outros 30% a gente trabalha com captação de recursos com editais, emendas parlamentares e todas as ações pontuais com a comunidade”, explica.
Toda ajuda é bem-vinda
Denise destaca que as pessoas podem se engajar de inúmeras maneiras com a Irmandade Betânia, desde trabalho voluntário até a doações de recursos. Segundo a diretora, a instituição possui uma campanha de apadrinhamento em que o doador escolhe um valor a partir de R$ 60 e contribui mensalmente. Pelo site, também é possível fazer doações pontuais.
Denise destaca que, com exceção da Escola Estância Bethânia, que é a mais nova, as outras duas escolas precisam passar por reformas, o que requer materiais de construção e verba. Além disso, recursos didáticos, como materiais escolares, desde lápis a massa de modelar, são extremamente úteis para as oficinas promovidas pela instituição.

Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná
Doações de alimentos também são bem-vindas, visto que as duas escolas sociais da instituição atuam em tempo integral e as crianças precisam se alimentar ao longo do dia.
“Elas ficam o dia inteiro nas nossas unidades sociais e elas recebem quatro refeições durante o dia. A gente tem necessidade de hortifruti, de alimentos de base seca, como arroz, farinha, macarrão, feijão”, explica.
Uns pelos outros
Gislaine conta que seus pais dizem que ver a filha deles se formar foi uma realização pessoal. Segundo a coordenadora, tudo que eles não conseguiram fazer, ela realizou. “A educação rompeu barreiras”, afirma.










Denise afirma que ao longo dos 25 anos em que ela atua na Irmandade Betância ela aprendeu que as pessoas têm necessidade de serem percebidas, amadas e acolhidas. Para a diretora, poder olhar para elas e trabalhar para que seja possível dividir tudo aquilo que outro ser humano tem é um privilégio.
“Eu trabalho na área da educação durante todo esse período e eu acho sensacional poder entregar para a criança a oportunidade dela se tornar uma pessoa realizada no mundo, de saber quais são os potenciais dela e ela ser tudo aquilo que ela pode ser”, conta.
Para Denise, o ponto forte do trabalho desempenhado na instituição não está atrelado a quanto ela arrecada de dinheiro, mas sim ao tanto de amor ao próximo que ela oferece. A diretora diz que não tem filhos biológicos, mas garante que todos que passam pela instituição se tornam filhos do coração. “Já são quase mil”, brinca.
“Eu sempre tive dentro do meu coração a vontade de servir as pessoas. Eu fui entendendo que realmente eu posso usar a minha profissão para que outras pessoas sejam abençoadas, para que outras pessoas encontrem também seu propósito de vida”, afirma.
Tamo junto com..
Desde que começou o projeto Tamo Junto Com já contribuiu para melhorias em duas instituições de Curitiba. A primeira delas foi a Acridas, uma verdadeira “porta da esperança” para crianças que sonham com um lar seguro e de boa convivência. Depois a instituição da vez foi a FEPE, que faz um trabalho minucioso e de extrema importância com as crianças recém-nascidas.
>>> Caso queira colaborar financeiramente diretamente para a Irmandade Betânia acesse o site clicando aqui.

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