No bairro Uberaba, em Curitiba, os moradores convivem há anos com os alagamentos ao longo do Córrego do Rio Areiãozinho, que tem aproximadamente 3,7 quilômetros de extensão. Basta uma chuva um pouco mais intensa para que a água transborde e avance para dentro das casas. Maria de Fátima*, moradora da região, conta que já se acostumou a viver com medo de que a força da água provoque danos estruturais em sua residência.

As intervenções feitas no córrego fazem parte dos programas de macrodrenagem e revitalização da Bacia do Rio Belém. Entre as medidas executadas, foi construída uma contenção do tipo gabião, espécie de gaiola metálica preenchida com pedras que ajuda a evitar a erosão e estabilizar o talude.

No entanto, em julho do ano passado, parte dessa estrutura se rompeu e caiu dentro do rio. Desde então, Maria de Fátima passou a cobrar providências. “Desse dia em diante, não parei mais de ligar na Prefeitura. Já fui duas vezes na Regional. No ano passado, vieram, mas não estava tão crítico quanto agora”, relata.

No entorno de sua casa, a contenção danificada ameaça o imóvel. O muro, segundo ela, pode ceder em caso de chuvas mais fortes ou nova movimentação do terreno. “O gabião saiu do rio inteiro quase. Agora está dentro do rio atrapalhando a vazão da água e ainda fez um buraco enorme debaixo do meu muro. Não dá nem para passar na calçada”, desabafa a moradora.

Pesadelo

Tatiane Rios, que vive na região desde a infância, também conhece bem a rotina de sobressaltos nos dias de chuva. Ela já perdeu a conta de quantas vezes viu o córrego transbordar e alagar as ruas. “Quando chove à noite, já ficamos de olho no rio para ver se não está subindo a água. É um pesadelo”, afirma.

A situação é ainda mais preocupante perto da Escola Municipal João Macedo Filho, localizada na Rua Ulisses José Ribeiro. Na quadra de trás, no trecho paralelo à via, o córrego corre sem qualquer calçada ou contenção, obrigando pedestres a seguir à margem. Na esquina das ruas Dona Saza Lattes e Joaquim do Amaral, ao lado da ponte, o caminho é estreito e perigoso.

A insegurança não se limita à falta de calçadas. Quem tenta atravessar a rua precisa enfrentar a ausência de faixa de pedestres em toda a quadra. O mesmo cenário se repete nos arredores do Centro de Educação Infantil Vila Macedo, onde o rio também passa bem próximo. “O rio já assoreou bastante. Quase toda vez que tem uma chuva um pouco mais forte, ele transborda. Já houve casos em que a água entrou dentro da creche e os bombeiros tiveram que ir até lá para atender as crianças”, conta Tatiane.

Solução?

Em pedidos de providências feitos pela Central 156, a Prefeitura informou aos moradores que não realiza limpezas em áreas particulares. Já em nota à Tribuna do Paraná, a Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop) afirmou que mantém ações contínuas de limpeza e desassoreamento nos rios, córregos e canais da cidade.

Segundo a Prefeitura, o Córrego do Areiãozinho é considerado um ponto crítico, com presença de ocupações irregulares e alto risco de alagamentos. “A manutenção é feita nos trechos em que há condições técnicas para a execução do serviço. A atuação no Areiãozinho é considerada complexa devido às dificuldades de acesso”, explicou, em nota. 

Na quinta-feira (25/09), equipes do Departamento de Pontes e Drenagem da Smop estiveram na Rua Joaquim do Amaral, entre as ruas Saza Lattes e Júlio Wichirral, onde ocorreu a queda de um muro. “A ocorrência foi encaminhada à COSEDI – Fiscalização de Segurança de Edificações, responsável por avaliar as estruturas e notificar eventuais irregularidades, e também ao setor de Limpeza Pública da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, para a remoção de resíduos. Essa etapa antecede a retirada da estrutura de gabião colapsada, que será feita para restabelecer o fluxo natural das águas, reduzir os riscos de alagamento e recuperar as margens do rio”, informou a nota.

As casas localizadas nesse trecho estão em área considerada não edificável e serão avaliadas pela COSEDI. Em paralelo, a Prefeitura está contratando um estudo técnico para definir um novo projeto de melhoria do escoamento das águas pluviais na Bacia do Areiãozinho. Entre as alternativas em análise estão a implantação de bacias de contenção e outras obras de drenagem capazes de reduzir os riscos de enchentes na região.

Questionada sobre a falta de faixas de pedestres e sinalização no entorno da escola, a Superintendência de Trânsito (Setran) disse que enviará equipes ao local para fiscalizar e mapear os pontos que necessitam de reforço.

*Nome fictício usado para a moradora que preferiu não se identificar na reportagem

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