O riso fácil esconde camadas. Cacá Ottoni, intérprete da divertida Marieta no remake de Vale tudo, fala da novela como quem descreve um banquete: há festa, há fome, há a certeza de que tudo terminará. Em entrevista, a atriz discorreu sobre sua trajetória na novela, os desafios da profissão e seus planos futuros. Com bom humor e reflexões profundas, ela compartilhou detalhes sobre sua personagem, a rotina incerta da carreira artística e até mesmo sua experiência como palhaça de hospital.

No remake, uma nova história ganhará destaque com Marieta no centro: agora como substituta de Aldeíde (Karine Teles) na TCA, ela terá a missão de confortar o coração do solitário Poliana (Matheus Nachtergaele). Na história, os dois personagens são assexuais, abrindo uma discussão importante na novela. Na primeira versão, Marieta saía de cena ao se mudar para São Paulo e dar lugar à Leila como secretária da Tomorrow — a nova secretária da TCA e namorada de Poliana era outra personagem. 

A leonina que completou recentemente 34 anos destacou ainda a evolução da personagem Marieta, que ganhou novos caminhos na trama: “Gostei dos novos rumos da Marieta, que permitiram um aprofundamento maior. É desafiador, mas prazeroso descobrir nuances da personagem conforme os capítulos são liberados. Canceriana que sou, já estou sofrendo por antecipação com o fim da novela!”

Adaptação profissional

Uma das grandes mudanças na trama foi a transição da Marieta da agência Tomorrow para a TCA, o que trouxe um novo visual e comportamento à personagem. Cacá contou que adorou a transformação: “Essa nova dinâmica trouxe mais informações sobre a Marieta. Ela deixou de existir apenas para o trabalho e começou a revelar traços de sua personalidade.”

É difícil discernir onde termina a Marieta e começa a artista que, como tantos, já negociou pedaços de si. A atriz pondera sobre como a personagem reflete dilemas reais: “Pensei em quantas vezes me adaptei até deixar de ser eu por conta de uma oportunidade profissional. Acredito que muitas pessoas já tenham passado por isso em um país em que geralmente imploramos por emprego.”

O núcleo das secretárias da TCA é marcado por diálogos bem-humorados, e Cacá revelou que não precisou fazer grandes ajustes para entrar no clima: “O texto já traz esse lugar engraçado, e há um jogo muito bem estabelecido entre os personagens. Mas tenho muita vontade de trabalhar mais com humor. O Freitas, por exemplo, é meu personagem favorito na novela, e o Luís Lobianco é a pessoa mais naturalmente engraçada que já conheci.”

Em suas redes sociais, Cacá compartilhou um vídeo do momento em que Marieta é contratada na TCA, destacando a “importância de um contrato” em sua luta diária. Sobre os desafios da profissão, especialmente sendo mãe, ela foi sincera: “Os ossos do ofício pesam toneladas a cada entressafra. Mas a gente aprende a lidar melhor com o tempo. Sempre tive uma vida instável, desde criança, porque meus pais também eram autônomos.”

Ela ainda refletiu sobre como cada experiência agrega em sua carreira: “Qualquer função desempenhada em outra área contribui para o trabalho do ator. O desvio sempre ensina algo. Certamente, aprendi mais sobre meu ofício quando não estava atuando – na observação da vida, das relações.”

Altos e baixos

Há 12 anos, Cacá ganhou projeção nacional em Malhação e, em 2019, ganhou o horário nobre na novela Amor de mãe, também da atual autora de Vale tudo. Sobre sua trajetória desde então, ela brincou: “Até agora, uma montanha-russa! Sempre trabalhei como atriz, às vezes em projetos com menos visibilidade, outras de volta à tevê ou no cinema… Em constante incerteza. Mas, como dizia Heráclito: ‘Nada é permanente, exceto a mudança'”, cita, destacando que, se o filósofo tinha essa consciência centenas de anos A.C. “Não é possível que eu não consiga entender em pleno 2025”, diverte-se.

Uma das passagens mais marcantes de sua carreira foi seu trabalho como palhaça no programa Enfermaria do Riso, onde atuou por seis anos. “Ela explicou a importância dessa experiência: “A figura do palhaço no hospital não é assistencialista, mas sim uma forma de transgredir a lógica do poder. Muitas vezes, o paciente percebe que, por pior que esteja, o palhaço está em uma situação ainda mais confusa – e acaba sendo ele quem ajuda o palhaço.”

Com o fim de Vale tudo se aproximando, Cacá já tem planos em andamento: “Estou ensaiando uma peça, Antena, que estreia em 2 de setembro no Teatro Ziembinski. É um projeto independente, feito com muito amor e um cadinho de ódio que só a falta de recursos dá.” O texto, escrito e dirigido por Ian Calvet, aborda a precarização do trabalho. “Estou penando para dar conta de tudo, mas, no final, vai dar certo – até que não dê mais, como sempre é”, finalizou Cacá. Ela foi citar Heráclito, e ficou filosófica.



  • Cacá Ottoni, atriz

    Cacá Ottoni, atriz
    Sergio Baia



  • Cacá Ottoni, atriz

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    Sergio Baia



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